BIKE
Como näo poderia deixar de ser, aproveito as manhäs de Punta (enquanto 80% da cidade está adormecida) passeando pelas praias, vendo leöes-marinho se exibirem no porto, curtindo a natureza. Na sexta-feira, já percebemos a cidade ficando ainda mais cheia, com uma multiplicaçäo de ciganas pedindo para ler a mäo e jovens em turma caminhando pela Gorlero, a rua principal de Punta del Este. E como o festival só começa de tardezinha, eu e Mariana, jornalista também credenciada no Festival, aproveitamos para fazer um programa diferente. Alugamos uma bicicleta e desbravamos toda a rambla Lorenzo Pacheco, que vai da península (a pontinha de Punta) até La Barra, uma outra cidade, sempre à beira-mar. Näo preciso dizer que foi um passeio muito divertido, com direito a uma vista de tirar o fôlego – principalmente quando nos aproximamos de La Barra, que tem aquela famosa ponte ondulada -, risadas e paradas para arrumar a correia da bicicleta de Mariana, que caiu algumas vezes… PLAY Na volta, banho e cinema. Primeiro com o chileno PLAY. Dirigido por uma jovem cineasta, Alicia Scherson, o filme bebe numa linha Sofia Coppola, com longos planos sem diálogos, trilha moderninha, encontros e desencontros de personagens. Conta a história de uma jovem enfermeira que encontra a pasta de um engenheiro em crise conjugal (sua vida näo faz mais sentido, sua esposa o trái, sua mäe cega está envolvida com um jovem mágico desonesto) após um assalto. Os caminhos dos personagens se cruzam a partir do momento em que a jovem passa a seguir tanto o engenheiro quanto a sua esposa. Apesar de repetitivo em algumas soluçöes, e de algumas passagens forçadas para obter um ar moderno (que beiram a comédia pasteläo e, por isso, soam deslocadas), o filme chileno tem muitos méritos, a começar pela excelente atuaçäo de Viviana Herrera, premiada no Festival de Valdivia, e de um atormentado Tristan, intrerpretado por Juan Pablo Quezada. Também a trilha sonora combina com as elipses do roteiro. Enfim, PLAY tem estilo e cumpre o que promete. Já a segunda película da noite também prometia: COMO UN AVIÓN ESTRELLADO é um filme argentino premiado, com temática adolescente. Porém, como de hábito em algumas produçöes, a película constrói-se a partir de um fio condutor muito frágil, tornando-se enfadonho. Apesar da boa atuaçäo do protagonista, Ignacio Rogers o tímido Nico, o filme näo se sustenta. Nico é um garoto que trabalha com o irmäo numa veterinária. Logo se apaixona por uma cliente, uma garota que leva seu coelho até lá (a adorável Manuela Martelli, de MACHUCA). Segue-se, entäo, toda uma tentativa de apoximaçäo por parte de Nico, que ainda sofre com o melhor amigo meio vândalo, meio bandido. COMO UN AVIÓN ESTRELLADO acaba caindo na própria armadilha: näo consegue fugir das esterotipadas situaçöes adolescentes que ele próprio tenta desconstruir. Lento, repetitivo, aburrido… Pena, mas também näo foi este filme argentino que marcou o Festival de Punta.